A Guerra na Ucrânia — «20 dias em Mariupol»: outra notícia falsa que se desmorona. Por Hedelberto López Blanch

Seleção e tradução de Francisco Tavares

2 min de leitura

«20 dias em Mariupol»: outra notícia falsa que se desmorona

 Por Hedelberto López Blanch

Publicado por  em 8 de Abril de 2024 (original aqui)

 

Fonte: Rebelión

 

O filme documental ucraniano intitulado “20 dias em Mariupol” que foi impulsionado com abundante propaganda pelos media dos Estados Unidos e da União Europeia, ganhou o Prémio Óscar no passado dia 10 de Março, mas não passou muito tempo para que viessem a público várias das notícias falsas que foram colocadas no filme.

 

A frase em inglês fake news refere-se a uma notícia falsa, falseada, caluniosa, ou um embuste que consiste em desinformar e gerar ruído que se difundem através de portais de notícias, imprensa escrita, Rádio, Televisão e redes sociais.

O documentário “20 dias em Mariupol” foi preparado para realizar propaganda contra a Rússia e para que os Estados Unidos continuem a dar financiamento e armamentos de todo o tipo à Ucrânia. O primeiro a elogiá-lo, como era lógico, foi o presidente dessa nação Volodimir Zelenski.

Desde há dois anos, quando começou a operação militar especial da Rússia para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, que esta nação não obteve êxito no campo de batalha, apesar da enorme ajuda financeira e militar que lhe deram os Estados Unidos e a NATO.

Por outro lado, pelo apoio esmagador que lhe oferecem os meios ocidentais hegemónicos, ele conseguiu confundir milhões de pessoas que só têm acesso a esse tipo de notícias falsas como as que são apresentadas no filme “20 dias em Mariúpol”.

Mas essa vitória hollywoodense durou muito pouco tempo porque o correspondente da RT em inglês, Román Kósarev, depois de ver o filme e realizar uma investigação juntamente com a sua equipa, descobriu que os principais factos narrados estavam adulterados e falsificados.

Narra Kosarev que numa das sequências observaram um pequeno casaco infantil de cor rosa que lhes pareceu familiar e ao procurar nos arquivos fílmicos encontraram-no.

A imagem não foi gravada pelos realizadores desse filme, mas por outro repórter ucraniano em 2014, na cidade de Gorlovka, atual República Popular de Donetsk. O facto foi resultado de um bombardeamento de forças ucranianas fascistas contra um edifício residencial onde morreram todos os integrantes de uma família. Essa população, de maioria russa, rejeitava o golpe de Estado ocorrido em Kiev.

A família Bulayev era composta por Tatiana de 34 anos, Olev de 35, e seus dois filhos, Danil de 9 e Sofia de 4.

O correspondente Kósarev falou com Irina, uma das vizinhas dos Bulayev, que expressou que, embora tenham passado 10 anos, tem fixo na sua memória aquele vil assassinato no qual morreram os dois filhos pequenos e seus pais.

Ao ser-lhe mostrada a foto tirada do filme “20 dias em Mariúpol”, onde aparece o casaco, Irina afirmou que era o de Sofia que pendia da árvore. “Claro que me lembro porque quando estávamos a procurá-los, atirámos fora todas as suas coisas e, além das roupas infantis, havia brinquedos espalhados por toda a parte. É absurdo que usem essas fotos para alcançar os seus objetivos, essa foto foi gravada aqui naquele ano“, enfatizou Irina.

A imagem do casaco não é o único facto deturpado. Outro é o que ocorreu em 9 de março de 2022 por um suposto bombardeamento da Rússia contra um centro de maternidade em Mariupol. Mariana Vyshemirskaya estava lá naquele dia. Os meios de comunicação ocidentais contam que ela responsabilizou a aviação russa por esse ataque. No entanto, Mariana, uma parturiente na maternidade de Mariupol confirmou à RT que numa entrevista com um jornalista da AP assegurou não ter ouvido barulho de aeronaves nem visto nenhum avião, mas essa parte da conversa não foi utilizada.

Quando estava em Mariúpol vi esses jornalistas, inclusive tornei-me protagonista do documentário, penso que este prémio está politizado e que não se deve prestar-lhe atenção. Desde o momento em que o filme foi nomeado ficou claro que receberia o Óscar e que tudo estava feito para isso“, pontuou Mariana.

A equipa de Kósarev trabalha no Donbass desde 2014 e testemunhou desde o início a agressão da Ucrânia contra os moradores locais que simplesmente queriam ser independentes após o golpe de Estado ocorrido em Kiev. Muito antes do início da operação militar especial russa em fevereiro de 2022, 91 crianças foram assassinadas e 469 ficaram feridas por bombardeamentos ucranianos. No entanto, essas mortes foram ignoradas pelo Ocidente.

Novamente outra notícia falsa fabricada pelos inimigos da Rússia, cai sob o seu próprio peso. A verdade, embora tardia, abre caminho.

__________

O autor: Hedelberto López Blanch [1947 – ] é jornalista, escritor e investigador cubano. Licenciado em jornalismo. relatou numerosos eventos internacionais ocorridos em Cuba, Angola, Zâmbia, Moçambique, Líbia, Tanzânia, Catar, Zimbábue, África do Sul, Alemanha e Rússia. Foi correspondente permanente da Juventud Rebelde na Nicarágua e assessor de redação do jornal Barricada naquela nação centro-americana entre 1985 e 1987. Ganhou vários prémios de jornalismo. Como investigador da emigração cubana, viajou para os Estados Unidos em diferentes ocasiões. Entre suas obras aparecem: La Emigración cubana en EE.UU., Descorriendo Mamparas; Miami, Dinero Sucio; Bendición Cubana en Tierras Sudafricanas, Historias Secretas de Médicos Cubanos en África, e Cuba, pequeno Gigante contra o Apartheid. Atualmente López Blanch trabalha como comentador internacional no semanário Opções da editora Juventude Rebelde, colabora com várias publicações nacionais e internacionais como rebelião, de Espanha e é Candidato a Doutor em Ciências da comunicação pela Universidade de Havana.

 

Leave a Reply